22/02/21 18:01 | NOTÍCIAS
Ao longo da vida, todos nós sentimos medo. Ele aparece tanto em momentos específicos, como ao andar em uma montanha-russa, ou permanece a vida toda, como um medo de altura, de falar em público ou de baratas. Cada pessoa tem medos próprios, que fazem parte de quem ela é e têm muitas origens e explicações possíveis.
Além dos medos particulares, há também os medos "comuns", de que todos partilhamos: medo de morrer, de ficar doente, de tempestades ou furacões. Estes são medos ligados à natureza humana, que direcionam o ser humano rumo à sobrevivência. Esta, aliás, é a principal função do medo: fazer com que a pessoa aja e consiga escapar com vida de situações arriscadas.
Mas nem sempre é possível dominar o medo. Para muitas pessoas, ele é paralisante e se sobrepõe a qualquer tentativa de racionalização da situação. E é justamente quando o medo começa a atrapalhar o cotidiano que ele vira um problema maior. A boa notícia é que até medos paralisantes podem ser ressignificados.
É importante sentir medo
O medo é uma reação a algum estímulo ameaçador, que pode ser real ou imaginado. O cérebro reage colocando o organismo em estado de alerta, o que provoca alterações por todo o corpo: aceleração dos batimentos cardíacos, desconforto intestinal, insônia e sono agitado.
Ele é algo natural e protetor e faz com que nos previnamos de situações arriscadas. Sem o medo, atravessaríamos sem olhar para os lados, andaríamos em ruas escuras sozinhos, passearíamos no parapeito dos prédios, não cuidaríamos da saúde. É claro que não é possível controlar tudo ou viver em um ambiente totalmente seguro. O que importa é identificar o tipo de medo e conseguir transformar o estado de medo em prudência e cautela.
Manifestações
Ele pode se manifestar de diversas formas, como ansiedade ou algo mais sutil, como quando uma pessoa rejeita um interesse amoroso pelo medo de sofrer ou de a relação não dar certo.
Veja alguns tipos:
Quando o medo é ruim
Os medos podem ser genéticos, aprendidos na infância, pela educação ou copiando o modelo de comportamento dos pais. A origem depende de como cada um se relaciona consigo mesmo, por isso a ajuda de um psicólogo na busca pelo autoconhecimento pode possibilitar reconhecer os medos e a forma como eles se manifestam nas nossas vidas.
Isso é importante quando o medo vira algo prejudicial. Se ele é excessivo, pode virar uma fobia e atrapalhar o dia a dia da pessoa. Além de não conseguir reagir às situações que a assustam, ela passa a evitá-las, e pode perder oportunidades ou deixar de viver momentos prazerosos devido a um medo pontual.
Pode acontecer também de o indivíduo nem saber a origem daquele medo —conhecido como medo irracional. São situações que nem a própria pessoa consegue explicar. Racionalmente ela entende que está tendo uma reação exagerada, mas não consegue agir de maneira diferente. Casos assim podem gerar pavor, pânico e paralisação ou até reações físicas como mal-estar, vômitos e desmaios.
Como não deixar que o medo nos paralise?
Sentir medo não é uma doença, e ficar paralisado não é uma questão de escolha. É preciso descobrir estratégias para lidar com ele e não deixar de agir.
O auxílio pode vir em vários formatos: atividade física, meditação, técnicas de respiração, tratamentos e medicamentos. Buscando fortalecimento emocional e autoconhecimento, é possível entender as causas, fazer a regulação cognitiva das emoções e modificar comportamentos.
Dentro da terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, são utilizadas diversas técnicas com o intuito de auxiliar quem sofre prejuízos na vida por conta dos medos. O profissional e o paciente, juntos, investigam as causas para ressignificar crenças e esquemas disfuncionais.
A dessensibilização sistemática, uma das técnicas mais comuns em tratamento de fobias, consiste em expor o paciente ao fator do medo de maneira progressiva. Através da repetição, cria-se uma situação de hábito com aquilo, e o medo fica menor.
Em muitos casos, o medo de determinadas coisas ou situações nunca desaparece por completo, mas a pessoa consegue encontrar jeitos de criar uma relação mais ajustada com aquilo.
Existem pessoas mais medrosas e outras mais corajosas?
Existem pessoas que tendem a olhar para as coisas do lado mais difícil e perigoso. Elas vivem com a sensação de uma ameaça permanente e são temerosas de tudo, até mesmo de hipóteses (como não querer ir ao médico por medo do que possa aparecer no diagnóstico).
Pessoas medrosas se arriscam menos, e por isso acabam perdendo oportunidades importantes. Isso não quer dizer que ela é fraca, e sim que está reagindo à própria história de vida.
Pessoas mais corajosas costumam ser mais seguras de si, com uma autoestima melhor e coragem de se arriscar. Na maioria das vezes, tiveram uma criação com apego seguro, desenvolvendo ligações afetivas importantes com os pais ou cuidadores e cresceram acreditando em si mesmas e se valorizando. A coragem depende da segurança que a pessoa tem nela mesma, na sua capacidade de resolução de problemas e de sua autoconfiança.
Uma pessoa pode não ter medo de pular de paraquedas, mas ter medo de barata. Os medos não são lineares. Ninguém é totalmente corajoso nem totalmente medroso.
Fontes: Marina Vasconcellos, psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), especialista em psicodrama terapêutico pelo Instituto Sedes Sapientiae, psicodramatista didata pela Febrap (Federação Brasileira de Psicodrama) e terapeuta familiar e de casal pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Blenda de Oliveira, psicóloga clínica formada pela PUC-SP, psicanalista pela SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo); Cris Gebara, psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental, mestre em ciências pela USP (Universidade de São Paulo), docente do curso de especialização em TCC em saúde e pesquisadora pelo Programa Ansiedade do IPq HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP); Thais Rueda, psicóloga pela Universidade Veiga de Almeida, psicóloga do esporte e do exercício pelo CEPPE (Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte) e pós-graduada pelo CPAF-RJ (Centro de Psicologia Aplicada e Formação em Terapia Cognitiva Comportamental).
Fonte: UOL
Texto: Fernanda Beck
Imagem ilustrativa: Bigstock
Edição: C.S.